Marcha Meu útero é laico

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Segundo dados de 2005 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade de gravidez não desejada no mundo gira em torno de 87 milhões. Destes, entre 46 milhões e 55 milhões resultam em aborto. Com base nestes dados, pode-se constatar que a cada 24 segundos ocorre um aborto no mundo, sendo que grande parte das interrupções (18 milhões) são clandestinas, resultando muitas vezes na morte de milhares de mulheres. Mulheres muitas vezes pobres, sem condições de pagar clínicas especializadas e que são dizimadas em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

 Em 2012, diante dos números alarmantes, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou os dados aproximados de mulheres mortas devido à abortos malsucedidos no Brasil e cobrou respostas do governo, já que os números apontam um verdadeiro feminicídio, mostrando que cerca de 200 mil mulheres morrem por ano no país.

A resposta do Estado brasileiro a esse questionamento – não somente a ONU, mas a movimentos feministas que há anos lutam pela legalização do aborto e assistência a suas vítimas – foi o recente reavivamento do Estatuto do Nascituro. Este projeto de lei propõe a total submissão do corpo da mulher a um estado pratriarcal, prevê inclusive o retrocesso da legislação que garante assistência a vitimas de estupro. Em apoio houve o surgimento de movimentos pro-vida, organizações da sociedade civil contra o aborto, em favor não da vida, mas da hipocrisia e manutenção de convenções sociais machistas, moralistas e ditatoriais.

Estes movimentos organizaram diversas manifestações por todo o país, em Belém não seria diferente. Acontece no dia 15/09, às 8h, com concentração no CAN, a I Marcha Paraense em Cidadania pela Vida – Por um Brasil sem aborto. Acreditamos que movimentos como este deslegitimam formas diversas de viver, sentir e experimentar, não só o corpo, como a vida. Encobrem uma normatização geradora de violências subjetivas e físicas que matam milhões de pessoas, ideias e prazeres cotidianamente. Belém atesta seu conservadorismo. Famílias do bem vão às ruas condenar o aborto em favor da vida. Da vida de quem? Que famílias são essas que se acham no direito de escolher quem vive e quem morre?

 

Em resposta aos inúmeros atentados aos nossos corpos e quereres continuaremos resistindo e lutando por nossa liberdade de decidir e de ser.

As vacas na sociedade de consumo são trancafiadas em celeiros minúsculos, obrigadas a reproduzir e dar leite à máquinas sugadoras e violentas. Quando vivas tem como última finalidade e funcionalidade a procriação e a alimentação. São vítimas de um especismo, no qual o homem, em sua superioridade, dominam seus corpos em vida e em morte. Homens sedentos por sangue e por quantidades elevadas de um produto. Não queremos ser essas vacas. Somos as vacas que burlam esse sistema. Somos vacas profanas. Por isso no dia 15 de setembro, às 8h, estaremos no CAN defendendo que:

Nossos úteros são laicos e decidimos antes de qualquer um o que iremos fazer de nossas vidas

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